quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

TIRADOS PARA FORA PARTE 2

Antes de o Senhor subir aos céus, nos últimos instantes Dele aqui na Terra, Ele disse aos discípulos: “... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra” (At 1.8). As últimas palavras do Filho de Deus aqui foram “até os confins da Terra”! Vamos agora discernir o que disse o Mestre nesse último versículo de suas palavras aqui:
1. “...mas recebereis poder” Essa palavra poder, do original grego “dunamis”, significa força ou explosão, mas denota algo sobrenatural. É diferente da força do braço citada em Jeremias 17.5, aqui a força é natural, mas em Atos 1.8 a força é sobrenatural. Todos nós sabemos que é o Espírito Santo que está sobre nós, mas aqui a atuação do Espírito tem uma conotação diferente do que tem sido na maioria de nossas igrejas, em tudo o que fazemos nela. A Igreja de Atos nasceu por uma iniciativa do Espírito Santo, e o combustível que movia a Igreja foi o Espírito Santo. Sabemos no relato de Atos 1 que a Igreja iniciou pela oração, e então desceu sobre eles o Espírito Santo... e ele continuou sendo a força sobrenatural, o poder que vem do Alto, que continuou atuando. Mas infelizmente hoje somos movidos por calendários anuais, eventos para jovens, encontros, reuniões, e quase nada estamos fazendo iniciando pela oração até que do Alto sejamos revestidos desse poder. É muito triste, irmãos, e eu errei muito nesse aspecto, até que o Senhor começou a falar comigo e me mostrar em Sua Palavra diversas iniciativas do Espírito Santo na Igreja, ocasiões que Ele decidiu e Ele fez, afinal você conhece alguém para fazer a obra do Espírito Santo melhor que Ele mesmo? Eu não! Vamos ler um texto em que o Espírito Santo é a força que moveu a obra, e que iniciou pela oração: “Quando os sacerdotes saíram do lugar santo (pois todos os sacerdotes que se achavam presentes se tinham santificado, sem observarem a ordem das suas turmas; também os levitas que eram cantores, ...e juntamente com eles cento e vinte sacerdotes, que tocavam as trombetas) , quando os trombeteiros e os cantores estavam acordes em fazerem ouvir uma só voz, louvando ao Senhor e dando-lhe graças, e quando levantavam a voz com trombetas, e címbalos, e outros instrumentos de música, e louvavam ao Senhor, dizendo: Porque ele é bom, porque a sua benignidade dura para sempre; então se encheu duma nuvem a casa, a saber, a casa do Senhor, de modo que os sacerdotes não podiam ter-se em pé, para ministrar, por causa da nuvem; porque a glória do Senhor encheu a casa de Deus.” (2Cr 5.11-14) Irmãos, essa é a unidade que faz a diferença! Aqui nesse texto os sacerdotes e levitas que estavam encarregados em ministrar ao Senhor, agora no templo que foi construído por Salomão, eles não queriam de jeito nenhum iniciar os serviços “na força do braço”, porque já tinham visto como Deus se movia no Tabernáculo de Davi, e agora eles queriam trazer também para este serviço aquela unção, aquele mover, aquela força sobrenatural. O que eles fizeram então? Havia uma escala natural de jejum e oração, mas eles decidiram quebrar a escala, não jejuando e orando apenas no horário descrito, mas também fazendo isso nos horários dos outros colegas, e assim todos estavam fazendo, jejuando e orando sem parar, cada vez mais. Todos unânimes, em uma só voz! - Amigos será que Deus é capaz de resistir a um grupo que decide buscá-lo sem parar até que Ele venha? É impossível para Deus resistir ao clamor dos seus santos! E o que aconteceu? Ele veio! E encheu a casa do Senhor! A glória do Senhor encheu a casa de Deus! Foi assim também que o serviço da Igreja de Atos iniciou: começaram orando sem se ausentarem do cenáculo até que do Alto fossem revestidos, e Ele veio e desceu sobre eles como fogo, fogo esse que incendiou Jerusalém a ponto da cidade estar cheia com a doutrina dos apóstolos... Não se falava em outra coisa. Vamos incendiar nossas cidades? Vamos então começar por jejum e oração até que Ele venha e faça o que quiser. “...e sereis minhas testemunhas (mártires)” Ah irmãos... se começar a obra do Espírito Santo por jejum e oração “até que Ele venha” já não é algo tão simpático, muito menos é ser testemunha de Jesus! Essa palavra “testemunha”, do original grego “martus”, ou mártir, literalmente significa “que tem finalidade judicial - pessoa que sofreu torturas, ou mesmo morte, por não renunciar a qualquer outra crença, religiosa ou política.” Para explicar melhor a proposta de Jesus, o que Ele quer de nós é que sejamos mártires Dele, representantes legais Dele aqui na Terra. Ou seja, se Cristo é condenado à morte aqui (e realmente o mundo odeia a Cristo – leia Jo 15.18) então somos nós, na condição de mártires ou representantes legais, é que iremos morrer em nome Dele. É claro que você já sabia disso... Não?! Perdoem-me irmãos, mas ser testemunha Dele significa ser um fiel representante, que fala em nome Dele, que é perseguido em nome Dele, que é preso, torturado e até morto se necessário for, tudo em nome Dele: Talvez o melhor exemplo de testemunha de Jesus na Bíblia, juntamente com o testemunho do Ap. Paulo, seja o de Estêvão. Vejamos alguns detalhes nos versículos que nos mostram quem ele foi e o modo como ele confirmou sua fé em Jesus: “Ora, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.” (At 6.8) “Levantaram-se, porém, alguns … e disputavam com Estêvão” (At 6.9) “e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.” (At 6.10) “Então subornaram uns homens...” (At 6.11) “Assim excitaram o povo, os anciãos, e os escribas; e investindo contra ele, o arrebataram e o levaram...” (At 6.12) “e apresentaram falsas testemunhas...” (At 6.13) “Então todos os que estavam assentados no sinédrio, fitando os olhos nele, viram o seu rosto como de um anjo.” (At 6.15) “Ouvindo eles isto (o discurso em At. 7.2-53), enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra Estêvão.” (At 7.54) “Mas ele, cheio do Espírito Santo, fitando os olhos no céu, viu a glória de Deus,  Jesus em pé à direita de Deus, e disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem em pé à direita de Deus.”(At 7.55-56) “Então eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele e, lançando-o fora da cidade o apedrejavam...” (At 7.57-58) “E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. Tendo dito isto, adormeceu...” (At 7.60) O quê? Ser testemunha de Jesus é estar pronto para confirmar a fé a tal nível? Sim, é isso mesmo. Pois não era a Estêvão quem aqueles homens estavam perseguindo, mas ao nosso amado Senhor Jesus, que era inegavelmente reconhecido na vida de Estêvão. Vejamos como o Senhor se apresentou a Saulo: “e, caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és tu, Senhor? Respondeu o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues.” (At 9.4-5) E esse mesmo Saulo, antes um terrível perseguidor da Igreja (At 8.3; 9.1-2), agora como mártir de Jesus, afirmou a Timóteo: “Ora, todos quanto querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2Tm 3.12). A palavra “piedoso” significa “fiel, devoto”, e a raiz da palavra aponta para “adorador”. É por isso que o Senhor Jesus afirmou em Jo 4.23 que o Pai procura adoradores que o adorem em espírito e em verdade. Ele procura pessoas que decidam viver piedosamente, restritamente obedientes à Sua vontade, fiéis devotos, testemunhas, verdadeiros mártires: “Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos” (Sl 116.15). “...tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria” A Igreja Primitiva recebeu do Senhor Jesus a ordem de evangelizar, fazer discípulos e estabelecer igrejas em toda a Terra na seguinte expressão: “... e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da Terra” (At 1.8). A Igreja de Jerusalém compreendeu muito bem o mandamento do Mestre, e realmente foram testemunhas de Jesus em Jerusalém: “...Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome; contudo, enchestes Jerusalém de vossa doutrina...” (At 5.28 – leia também At 2.40-41; 4.1-4; 5.14-16); como também foram fiéis testemunhas de Jesus por toda a Judéia e Samaria: “... os que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra” (At 8.4) – “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em número” (At 9.31 – leia também At 8.1; 8.5-8; 8.14-17; 8.25). Porém havia no coração dos apóstolos e de todos os demais discípulos uma resistência em anunciar o Evangelho aos povos gentios, mesmo após a dispersão ocorrida em função da perseguição após a morte de Estêvão (At 8.1-3). Isso é claramente demonstrado na ocasião em que Pedro resiste em ministrar a Cornélio, por ele ser gentio (leia At 10). Vejamos a réplica de Pedro, mesmo após o Senhor ter-lhe dado à visão e falado com ele por três vezes: “No outro dia entrou em Cesaréia. E Cornélio os esperava, tendo reunido os seus parentes e amigos mais íntimos.” (At 10.24) “E conversando com ele, entrou e achou muitos reunidos, e disse-lhes: Vós bem sabeis que não é lícito a um judeu ajuntar-se ou chegar-se a estrangeiros; mas Deus mostrou-me que a nenhum homem devo chamar comum ou imundo; pelo que, sendo chamado, vim sem objeção. Pergunto pois: Por que razão mandastes chamar-me?” (At 10.27-29) Irmãos, vejam que situação! O próprio Deus decide salvar Cornélio; este mesmo organiza um “culto de evangelismo” reunindo seus parentes e amigos mais íntimos só para ouvir a pregação de Pedro, e encontram um homem ranzinza e antipático dizendo que não é lícito que um judeu ajunte-se com estrangeiros, e ainda tem a coragem de perguntar por quê o chamaram ali? E eu pergunto: onde estava a ordem de Jesus de pregar o evangelho a toda criatura? (Mc 16.15) E a ordem de fazer discípulos de todas as nações? (Mt 28.19) Aqui está o primeiro indício de que os apóstolos, que eram todos judeus, “torciam o nariz” em anunciar o evangelho aos gentios, “a toda criatura” e fazer discípulos “de todas as nações” – com exceção de Felipe, que anunciou a Palavra ao eunuco (At 8.26-40). Para os religiosos, isso seria uma contaminação (leia At 11.1-3 e 11.17-18). Vejamos também o texto de Atos 11.19: “Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.” (At 11.19) Voltemos então à ordem do Senhor Jesus em At 1.8, mas de modo que possamos compreender o que o Senhor ordenou: “... e sereis minhas testemunhas:

1. tanto em Jerusalém
2. como em toda a Judéia
3. e Samaria
4. e até os confins da Terra.”

As expressões “tanto”, “como”, “e” “até” indicam uma equivalência ou igualdade. Sabem como eu pude compreender melhor essa afirmação? Quando um dia, meditando nesse versículo, fiquei observando uma mesa e cheguei à conclusão óbvia que ela não poderia ter apenas três pés, ou cinco, mas que o correto é a mesa ter quatro pés, todos do mesmo tamanho. Da mesma sorte uma cadeira possui também quatro pés iguais... O que isso quer dizer? Que nós temos que pregar o evangelho e ser testemunha de Jesus:
1. tanto quanto nos esforçamos em fazê-lo na nossa igreja ou localidade (Jerusalém = “a sede” ou “a matriz”);
2. como em toda a na nossa região (toda a Judéia);
3. e nas regiões ao nosso redor (Samaria); 4. e até mesmo em todas as nações (confins da Terra). Para Jesus, não há diferença entre Jerusalém e confins da Terra. O esforço, o investimento, as orações, tudo o que fazemos como testemunhas de Jesus deve ser feito com o mesmo peso e a mesma medida: aqui, ali, lá e nas nações.

A IGREJA DE ANTIOQUIA:
                                                     ATÉ OS CONFINS DA TERRA!

                                                        
Após a destruição de Jerusalém entre os anos 64 e 70 dC os cristãos foram duramente perseguidos e se espalharam pelas regiões da Ásia, Oriente e Mediterrâneo, mas ainda estavam resistentes a ministrar o Evangelho aos gentios: “Aqueles, pois, que foram dispersos pela tribulação suscitada por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.” (At 11.19) “Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor.” (At 11.20-21) Mas esses irmãos, que estabeleceram a igreja de Antioquia foram diferentes dos demais, e entenderam a obra que o Espírito Santo estava realizando através daquela perseguição contra aos cristãos. A Igreja estabeleceu-se em Jerusalém e arredores por aproximadamente 40 anos sem pregar o evangelho aos gentios, somente aos judeus! Esqueceram-se dos confins da Terra ordenado pelo Senhor. Mas aqueles irmãos de Antioquia perceberam a enorme oportunidade de espalharem o evangelho a partir de lá, mas por que Antioquia? “Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo levedado.” (Mt 13.33) Antioquia naquele tempo era a terceira maior cidade de todo o mundo conhecido, ficando atrás apenas de Roma e Alexandria. Antioquia era a principal rota comercial e marítima do Mediterrâneo com a Ásia, Arábia e o Oriente, o que foi fundamental para a expansão da Igreja através de Paulo, Barnabé, Silas, Timóteo, etc. Antioquia era uma cidade cosmopolita, onde viviam pessoas dos mais diversos lugares, e foi nesse terreno fértil que a Igreja percebeu a enorme oportunidade de cristãos definitivamente foram “o fermento que levedou toda a massa”, antes apenas em Jerusalém e arredores, mas agora em todo o mundo conhecido da época. Barnabé: o homem que percebeu a direção do Vento “Chegou a notícia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia; o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração; porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor.” (At 11.22-24) Vamos falar um pouco sobre Barnabé. Esse nome em grego significa “filho da consolação” ou “filho da profecia”. Ele era judeu da tribo de Levi (At 4.36), primo mais velho de João Marcos (Cl 4.10) – aquele que era filho de Maria, dona da casa onde Jesus se reunia com os discípulos (futura sede da Igreja de Jerusalém – At 12.5,12). Por isso, muito provavelmente Barnabé estava entre as testemunhas oculares do Senhor e teve a oportunidade de conhecê-lo e ouvir muitos dos ensinamentos do Mestre. Os relatos bíblicos a respeito de Barnabé demonstram que era um grande homem de Deus: “porque era homem de bem, e cheio do Espírito Santo e de fé” (At 11.24); em Jerusalém ele vendeu um campo e o ofertou integralmente aos pés dos apóstolos, para a assistência aos mais necessitados (At 4.37); Lutero e Calvino defendem a tese de que era Barnabé o irmão citado por Paulo em 2Co 8.18-19: “E juntamente com ele enviamos o irmão cujo louvor no evangelho se tem espalhado por todas as igrejas; e não só isto, mas também foi escolhido pelas igrejas para ser nosso companheiro de viagem no tocante a esta graça que por nós é ministrada para glória do Senhor e para provar a nossa boa vontade.” Durante a primeira viagem missionária, quando estavam pregando em Listra, Barnabé foi chamado Júpiter, e Paulo foi chamado Mercúrio (At 14.12). Na cultura grega, Júpiter é Zeus, pai de Hermes – ou Mercúrio. Ou seja, de alguma forma os gregos perceberam a autoridade e a paternidade de Barnabé sobre Paulo, de modo que Barnabé não foi apedrejado, mas Paulo foi (At 14.19). Pois Barnabé percebeu que algo estava acontecendo em Antioquia que ele não tinha visto em nenhuma outra igreja, nem mesmo em Jerusalém, de modo que ele saiu atrás de Saulo e o levou para Antioquia, e lá permaneceram por um ano (At 11.25-26). Por que Barnabé saiu a procura de Saulo? O que ele viu de semelhante entre Saulo e a igreja de Antioquia, de modo que ele foi buscá-lo para ali permanecer? O “sinal” que a Bíblia nos mostra é que ali em Antioquia a igreja era de tal forma “testemunha de Jesus” que foram chamados cristãos pela primeira vez. Coincidência? O fato é que a intromissão de Barnabé na vida de Saulo e na igreja de Antioquia mudou a história do Novo Testamento, e provavelmente foi essa intervenção que permitiu ao Evangelho chegar até nós.

OS QUATRO PILARES DA IGREJA

“...E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações.” (At 2.42) Quem de nós, pastores e líderes, não conhecemos esse tão famoso texto? Lemos e pregamos sobre isso, mas não vivemos! Quando eu e minha esposa iniciamos uma nova fase de nossa vida ministerial, nós não sabíamos o que fazer em relação à igreja que o Senhor nos chamou para estabelecer em nossa cidade. Que bom que não sabíamos! Aí passamos a buscar sinceramente o coração de Deus, para que Ele nos revelasse o “modelo”, ou o que chamamos de “modo de caminhar” de nosso ministério. Foi quando o Senhor nos revelou com muita clareza nos Evangelhos o modo como Jesus congregava-se com os seus discípulos, e depois repetiram a “fórmula” em Atos também. Vou tentar exemplificar abaixo o que chamamos de “os quatro pilares da Igreja”:

1. Doutrina dos apóstolos

“ Portanto ide, fazei discípulos... ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado...” (Mt 28.19-20) “ e perseveravam na doutrina dos apóstolos...” (At 2.42)
Certa vez o ap. Paulo fez a seguinte recomendação a Timóteo, seu discípulo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nesses deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.16). A salvação se dá em conhecer a verdade, sem tirar nem acrescentar. Na mesma carta a Timóteo, um pouco mais adiante, ele diz: “Se alguém ensina outra doutrina e não concorda com as sãs palavras de nosso Senhor Jesus Cristo e com o ensino segundo a piedade, é enfatuado, nada entende … homens cuja mente é pervertida e privados da verdade...” (1Tm 6.3-5). Paulo cita a expressão “sã doutrina” 2 vezes para Timóteo e mais 2 vezes para Tito, que são justamente as duas cartas que denominamos como “pastorais”. E mais 16 vezes Paulo prega em suas cartas o zelo necessário pela doutrina dos apóstolos. Por quê? Porque somos facilmente levados por ensinamentos contrários ao padrão simples do Evangelho. Quer um exemplo?
O Evangelho da Prosperidade, tão disseminado no século 20 e muito mais pregado ainda no nosso século. Qual o exemplo de Jesus? Ele nada teve em seu nome, nem casa, nem jumento, nada... nem mesmo o jazigo onde foi sepultado era dele... “Ah mas isso era Jesus!” alguém pode me responder... Mas e a ordem que Ele, o Senhor, deu aos seus discípulos? “Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão...” (Mt 10.9-10). Agora eu pergunto: quantas túnicas? Uma só. Quanta provisão de ouro e prata? Nenhuma! Aí alguém me pergunta assim: “Ah então nenhum cristão pode ser rico?” Claro que pode, mas que seja advertido com as próprias palavras do Mestre: “Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas!” (Lc 18.24). E assim como o evangelho da prosperidade, há inúmeros outros evangelhos sendo pregados por aí. Nos escritos de Lutero há uma frase assim: “Hoje descobri mais uma seita entre os cristãos: a que prega que podemos viver o Evangelho de Cristo sem a Cruz de Cristo”. Irmãos, o que Paulo se esforça em nos ensinar como sã doutrina é estritamente os ensinamentos do Senhor Jesus, nada mais. Lembram do caráter restritivo do Reino? Se temos um Senhor e Rei, jamais podemos nos afastar disso.

2. Comunhão

“Ora, ao saltarem em terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão.” Jo 21.9) “ e perseveravam… na comunhão...” (At 2.42)
Como é bom comer, não é mesmo? Melhor ainda é comer na companhia dos amigos! Jesus sabia disso e gostava de ter comunhão com seus amigos... Essa palavra grega “koinonia” significa literalmente participar, associar, compartilhar. Depois que o Senhor morreu e ressuscitou, Ele apareceu várias vezes aos seus discípulos, mas em duas delas Ele ofereceu-se para comer: em Lucas 24.41 o Senhor perguntou a eles se tinham algo para comer, e lhe mostraram um pedaço de peixe assado e um favo de mel; e em João 21.9-13 o Senhor preparou peixes e pães para comer com os discípulos. Em outras ocasiões o Senhor também demonstra grande satisfação em estar na presença de seus amigos, não que a comida seja de maior importância, e de fato não é, mas é justamente naquele momento de comunhão que o Espírito Santo desenvolve em nós um dos principais elementos para o Corpo de Cristo: a unidade. É durante os momentos de comunhão que cada indivíduo do grupo passa a conhecer seu próximo, suportar as diferenças entre eles, compreender as carências uns dos outros, e assim a unidade vai sendo estabelecida. O Senhor Jesus deu muita importância à comunhão como mecanismo de geração de unidade em seu grupo. Sem unidade os apóstolos não teriam perseverado em permanecer no cenáculo “até que do Alto fossem revestidos de poder” (Lc 24.49; At 1.4). A última oração de Cristo antes da sua crucificação foi pela unidade da Igreja: “a fim de que todos sejam um... eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade...” (leia Jo 17). A unidade é como o perfeito sincronismo entre as peças de um motor, do contrário o motor não funciona. Um bom exemplo bíblico encontrado para unidade está no Salmo 133, escrito por Davi: “Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre.” “Sião” aqui representa a igreja, nela o Senhor ordena sua benção. “Não temas, ó filha de Sião; eis que o teu Rei vem assentado sobre o filho de uma jumenta” (Jo. 12:15). “Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, e aos muitos milhares de anjos (Hb 12:22). A palavra união, citada no verso 1 do Salmo 133, não está bem aplicada em nossa tradução. O original hebraico “yachad” significa unidade, ou literalmente a menor fração de unidade, a porção indivisível. Já a palavra união nos dá a idéia de ajuntamento, e não é esse o sentido empregado na expressão original. Unidade é quando o grupo torna-se indivisível, e esse é o fruto da comunhão: a geração de unidade. Davi tenta expressar a força da unidade nos versos 2 e 3: “É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão... como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião...” A pessoa de Arão descrita aqui aponta para autoridade, assim como o Monte Sião representa o lugar de onde Yahweh reina: “porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre.” (leia também Mq 4.7). É difícil para a nossa mente caída compreender o real significado da unidade. É como uma bênção indescritível ordenada por Deus. Davi viu a unidade no seu grupo (2Sm 23.8-23). A força da unidade é algo difícil de mensurar, se é que seja possível medi-la. Porém a unidade torna uma equipe invencível, assim como foram os valentes de Davi, e também como foi a Igreja Primitiva: “eis que enchestes Jerusalém dessa vossa doutrina” (At 5.28) e “estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (At 17.6). Como foi que essa unidade começou? “ e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão...” A comunhão é o principal fator para geração de unidade na Igreja, e a unidade é o principal fator para o avanço do Reino de Deus na Terra.

3. Partir-do-pão

“Quem, pois, tiver bens do mundo, e, vendo o seu irmão necessitando, lhe fechar o seu coração, como permanece nele o amor de Deus?” (1Jo 3.17) “ e perseveravam… no partir do pão...” (At 2.42) Certa vez o Senhor contou uma parábola assim: Certo homem vinha de Jerusalém pelo caminho e foi abordado por bandidos, que lhe roubaram tudo e ainda o agrediram, machucando-o gravemente. Por coincidência passava por ali um sacerdote (ou poderia dizer “pastor” em nossos dias) e não o ajudou. Logo depois passou também um levita (ou poderia dizer “diácono” ou “presbítero”) e também não o ajudou. Mas passando um pecador, vendo-o, teve compaixão daquele homem e o ajudou, tratando das feridas e o hospedando em uma pousada, tudo por conta dele... Esta história está narrada em Lc 10.25-37, e Jesus a contou a fim de responder a um fariseu, ou “um religioso de destaque” em nossos dias, quem era o nosso próximo, e ordenou que, aquele que pensa ser religioso, que seja misericordioso e compassivo e proceda assim também! Cada dia eu estou mais convencido que os dias finais da Igreja estão muito próximos, e o que mais me atenta para isso não são as guerras nem os terremotos, mas é o amor de quase todos que está se esfriando. No original grego, a palavra que descreve amor é justamente “ágape”, o amor compaixão, o amor misericórdia, o amor caridade. E eu pergunto, nós por nós mesmos temos esse amor? Não, então de onde vem? Do Pai. Ou seja, esse amor que se esfriará é dos “crentes”, dos que pensam ser religiosos, dos que um dia foram alcançados por esse amor e dele foram cheios... Perdoem-me a sinceridade irmãos, mas a compaixão está longe de ser uma virtude dos evangélicos em nossos dias. Eu me sinto tão envergonhado disso que não tenho coragem de admitir que sou um cristão, mas digo que estou tentando ser um cristão. Quantos irmãos agora, nesse exato momento, estão com as geladeiras vazias e são membros participantes em nossas igrejas... e a nossa geladeira como está? Ah irmãos... E o seu carro? Quanto custa o seu carro? Ah irmãos... qual a marca e o modelo do jumento de Paulo ou dos apóstolos? Jesus teve algum jumento? Não sei, mas hoje temos tudo isso e não estendemos a mão a “quase” ninguém... por que quase? Por que só ajudamos aquelas pessoas que temos simpatia, que estão vivendo de conformidade com o nosso padrão de mérito para receber alguma ajuda. Deus, tem misericórdia de nós!!
Irmãos sabem qual será o padrão de separação das ovelhas dos bodes lá naquele Dia? “Quando, pois vier o Filho do homem na sua glória, e todos os anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; e diante dele serão reunidas todas as nações; e ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos; e porá as ovelhas à sua direita, mas os cabritos à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes; estava nu, e me vestistes; adoeci, e me visitastes; estava na prisão e fostes ver-me. Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te? E responder-lhes-á o Rei: Em verdade vos digo que, sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era forasteiro, e não me acolhestes; estava nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes. Então também estes perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou forasteiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Ao que lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixaste de fazer a um destes mais pequeninos, deixastes de o fazer a mim. E irão eles para o castigo eterno, mas os justos para a vida eterna.” (Mt 25.31-46) Caso você ainda não tenha compreendido a verdade a respeito dessa passagem, eu quero de dizer que isso acontecerá no último Dia. Essa situação narrada por Jesus não é uma parábola, nem uma ilustração, mas é uma narrativa do que de fato ocorrerá no Julgamento Final: Quando vier o Filho do homem na sua glória, este se assentará no seu trono e todas as nações serão reunidas diante dele, e ele separará uns dos outros como o pastor que separa as ovelhas dos cabritos... Isso irá acontecer! E esse dia está cada vez mais próximo!! Portanto, fiquemos com a mensagem de João Batista: “Aquele que tem duas túnicas, reparta com o que não tem nenhuma, aquele que tem alimentos, faça o mesmo.”(Lc 3.11) Se queremos ser verdadeiros cristãos, testemunhas de Jesus, representantes do Reino de Deus, então já sabemos o que devemos fazer: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15.14).

4- Orações

“Orai sem cessar” (1Ts 5.17) “ e perseveravam… nas orações.” (At 2.42) O Senhor Jesus iniciou seu ministério com jejum e oração por 40 dias, logo após ser batizado (Mc 1.12-13, ver também Mt 4.1-2 e Lc 4.1-2). Além disso, o Senhor orou muito em seus 3 anos e meio de ministério (Mt 14.23; Mt 26.36-44; Mc 6.46; Lc 6.12; Lc 9.28; Lc 11.1; Lc 18.1-8). Os apóstolos buscaram a presença de Deus por 40 dias em oração conforme a ordem Dele antes de iniciarem o ministério da Igreja (At 1.14). O Ap. Paulo permaneceu em Damasco orando, aguardando pela visita de Ananias para que lhe recuperasse a visão (“pois ele está orando” -At 9.11). Em todo tempo Paulo exorta a Igreja à oração (Rm 12.12; Ef 6.17-18; Fp 4.6; Cl 4.2-4). E por que não oramos? É muito triste a constatação que um pastor do qual eu sou muito próximo tem feito em seus congressos. Ele costuma realizar pesquisas anônimas com perguntas assim: “quantas horas de televisão você assiste por dia?”, e a resposta normalmente é: de 3 a 4 horas. E aí tem outra pergunta assim: “e quantas horas de oração você tem dedicado por dia?” A resposta da maioria esmagadora é: menos de uma hora. Na grande maioria não passa de 10 minutos de oração por dia. E isso é no Brasil inteiro! Um dia possui 1440 minutos (um mil quatrocentos e quarenta minutos!). Você acha que seja razoável para um cristão orar 10 minutos de 1440 que ele tem no dia? Você tem idéia do quanto isso representa? 10 minutos de oração representam 0,7% de um dia inteiro! Você considera esse um tempo de qualidade para um cristão? Você acha que Deus escolherá esse irmão para levar o Evangelho do Reino às nações? Você acha que um irmão com 10 minutos de oração está preparado para assumir alguma função no Reino? Pois 95% dos que se intitulam evangélicos no Brasil não dedicam mais do que 10 minutos diários de oração. Isso não é fantasia, é estatística. Fantasia é eu pensar que com essa triste realidade veremos a Igreja triunfar em nossas cidades, conquistando toda a Terra para Jesus. Orar é falar com Deus, entrar na intimidade Dele e conhecê-lo de verdade. O salmo 91 diz assim: “Aquele que habita no esconderijo do Altíssimo...” Habitar não é dar uma passada rápida de 10 minutos não! Habitar significa morar lá, não sair de lá, é montar cabana lá e ficar. Quem habita lá tem uma cópia da chave, está por lá o tempo todo, é fácil encontrá-lo lá, escondido junto do Altíssimo. Eu te pergunto: você tem uma cópia da chave? Lá é o lugar onde o Altíssimo se esconde... você conhece o caminho? Tem a permissão para entrar? Ah irmãos! Como disse Paulo: orai sem cessar! Certa vez aconteceu que Tiago foi preso e morto por Herodes. E não demorou para que Pedro também fosse preso para o matarem, porém havia oração incessante por parte da igreja a favor dele (At 12.5). Pedro não morreu pois o Senhor o livrou pelas orações da igreja, mas Tiago morreu. Iremos nos conformar com as afrontas do inferno contra a Igreja? Iremos aceitar o mundo contra nós? Porque devemos orar sem cessar, irmãos? Porque a oração é o combustível que move o coração de Deus a nosso favor. É a oração que faz com que o céu se movimente e os anjos trabalhem para o nosso triunfo. Não foi por outro motivo que Paulo recomendou: orai sem cessar. A Igreja Primitiva foi vitoriosa em seu chamado porque perseverou nesses quatro pilares: doutrina dos apóstolos, comunhão, partir-do-pão e oração. Não encontro em toda a Bíblia nenhuma condição para que nós, a Igreja de nosso tempo, sigamos outro caminho diferente dos apóstolos. Creio mesmo é que devemos seguir seus passos, sem tirar nem acrescentar nada. 

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