Estava meditando naquele texto em
que Paulo nos leva a contemplar a ação do Verbo em favor dos homens: “Porque já sabeis a graça de nosso Senhor
Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua
pobreza enriquecêsseis.” II Corintios 8:9.
Na simples análise do seu
contexto não temos outro entendimento senão o relacionarmos com as ações de
contribuição acerca das necessidades dos santos, mas hoje algo novo me veio a
mente. Se Cristo se “esvaziou” acerca de toda a Sua Glória para quem ela foi
transferida?
Paulo fala aos Romanos o
seguinte: “E aos que predestinou a estes
também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou
a estes também glorificou.” Rom. 8:30.
Podemos entender que a glória de Cristo não foi dissipada no momento em que Ele
se fez homem, mas que ela foi transferida. Então Jesus perdeu a Sua glória para
seus irmãos? Provisoriamente sim! “E
agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha
contigo antes que o mundo existisse...E eu dei-lhes a glória que a mim me
deste, para que sejam um, como nós somos um”. João 17: 5; 22
A glória de Cristo nos foi
transferida, porém na medida em que somos reconciliados com Ele na Sua morte,
esta glória retorna para Ele novamente: “Eu
neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o
mundo conheça que tu me enviaste a mim, e que os tens amado a eles como me tens
amado a mim. Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles
estejam comigo, para que vejam a minha glória que me
deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo.” João 17:23-24
Assim entendemos que toda glória
do Cordeiro está retornando para Ele na medida em que nos tornamos um com Ele e
um com nosso irmão. Também entendemos que o mesmo amor que o Pai dedicou ao Seu
Filho na eternidade também nos foi dedicado na mesma medida de intensidade e de
glória, para que todos as coisas fossem reconciliadas por meio dEle e para Ele
são (permanecem) todas as coisas eternamente, amém!
Até aqui este entendimento ainda
é superficial na revelação que estamos prestes a trazer. Pelo Evangelho (discipulado)
de Cristo, somos convidados a nos tornarmos semelhantes a Ele em tudo,
inclusive na questão do princípio de “esvaziar-se de si mesmo”, porque na
medida em que esta Graça é transferida a nós, e cada um faz o repasse dela para
outros, assim podemos entender como o Reino de Deus cresce. O reino se
multiplica pelo esvaziamento e transferência de Graça. Mas a nossa preocupação
é: Se eu me esvaziar ficarei vazio da Graça?
O gerador da Graça é o Pai. Fonte
inesgotável de Amor. De onde provem toda boa, perfeita e agradável vontade.
Esta fonte nunca seca, e continuamente reabastece cada depósito de Graça (nós)
que tem feito a sua transferência a outro (no mundo). Então para nos manter
cheios temos que nos esvaziar. Loucura! Em nossa mente racional e carnal isto é
uma controvérsia! Mas é assim que a unidade pode ser mantida, do contrário
deixamos de ser um só com o Senhor! Desligando na terra somos desligados no
céu!
Toda renovação de sabedoria e de
revelação é feita na medida em que transferimos o que recebemos. Não podemos
guardar nenhum mistério revelado pelo simples fato de que outros não nos serão
disponibilizados por falta de esvaziamento de sabedorias e revelações recebidas.
Nossa fonte interna tem que estar jorrando continuamente. São como rios de
águas vivas, que nunca cessam de jorrar para a vida eterna. Ligados a Cristo e
Cristo ligado no Pai, a Glória de Deus se multiplica na medida em que nos
esvaziamos de nós mesmos!
Então não é dividir o que tenho, mas
continuamente dar tudo que tenho!
Interessante como este princípio
foi aplicado por Paulo na contribuição para as necessidades dos santos. A
igreja que “mais contribuiu” não foi a que tinha mais recursos, e sim a que
padecia mais necessidades! Tirar daquilo que sobra para transferir não
glorifica o Pai: “Eu glorifiquei-te na
terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer.” João 17:4. Cristo só
glorificou o Pai porque se esvaziou de si mesmo, tornou-se pobre para nos fazer
ricos!
Alguém poderia ficar com medo de empobrecer
pelo princípio de esvaziar-se de si mesmo, mas como se diz: “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus
nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele. Nisto é
perfeito o amor para conosco, para que no dia do juízo tenhamos confiança; porque, qual ele é, somos nós também neste mundo. No
amor não há medo, antes o perfeito amor lança fora o medo; porque o medo tem
consigo a pena, e o que tem medo não é perfeito em amor. Nós o amamos a ele
porque ele nos amou primeiro.” I João 4:16-19
Creio que eu tenho que rever meus
conceitos sobre o que significa sermos igual a Ele neste mundo. Há princípios em
Cristo que precisam ser aperfeiçoados em nós, do contrário o mundo não poderá
crer que de fato o Pai enviou Seu Filho ao mundo, para que a glória que a Ele
foi entregue antes da fundação do mundo, retorne maior do que foi no início! A
igreja primitiva tinha muita glória interna, muita Graça em abundância: “E em toda a alma havia temor, e muitas
maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam
juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam
com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os
dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza
de coração. Atos 2:43-46. Mas infelizmente para outros o medo era um fator
decisivo para impedir a implantação do Reino de Deus no coração: “E Jesus, olhando para ele, o amou e lhe
disse: Falta-te uma coisa: vai, vende tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e
terás um tesouro no céu; e vem, toma a cruz, e segue-me. Mas ele, pesaroso
desta palavra, retirou-se triste; porque possuía muitas propriedades.” Marcos
10:21; 22.
No Reino de Deus há uma
produtividade a ser contabilizada, há uma prestação de contas a ser auditada.
Vemos isto na parábola dos talentos e das minas. Se não há produtividade é
porque temos sido negligentes quanto os princípios de Cristo que devem ser
verificados em nosso ser. Temos que nos perguntar quê Evangelho nós abraçamos? Quê Graça nos foi dada? De qual glória somos participantes? “Não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas
minhas orações: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito
de sabedoria e de revelação; Tendo iluminados os olhos do vosso entendimento,
para que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e
quais as riquezas da glória da sua herança nos santos; e qual a
sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a
operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o
dentre os mortos, e pondo-o à sua direita nos céus. Acima de todo o principado,
e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste
século, mas também no vindouro; e sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre
todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a
plenitude daquele que cumpre tudo em todos.” Efésios 1:16-23
O “esvaziar-se de si mesmo” é uma
contínua ação de misericórdia, justiça e Fé (pelas obras). Estes são frutos que
devem ser produzidos a partir do princípio “esvaziar-se”, e assim podem
traduzir o que significa a implantação do Reino de Deus em nossos corações.
Tudo que leva o nome de Deus mais não está sobre os trilhos do princípio de
“esvaziar-se de si mesmo” é religião, o pior demônio criado pelos homens, pois
este nunca se esvazia de si mesmo, pelo contrário, só incha! Precisamos
entender estes princípios urgentemente, do contrário não poderemos prevalecer
na grande tribulação. Para aqueles que ainda acreditam num livramento de grande
tribulação Pedro diz: “Para uma herança
incorruptível, incontaminável, e que não se pode murchar, guardada nos céus
para vós, que mediante a fé estais guardados na virtude de Deus para a
salvação, já prestes para se revelar no último tempo,
em que vós grandemente vos alegrais, ainda que agora importa, sendo necessário,
que estejais por um pouco contristados com várias tentações, para que a prova
da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo
fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na
revelação de Jesus Cristo.” I Pedro 1:4-7.
Na “revelação de Jesus Cristo”.
Estamos no último tempo, no tempo das manifestações dos últimos acontecimentos,
tempo em que pessoas serão provadas na sua fé, na sua misericórdia e na justiça
(Graça) que tem sido esvaziada de si mesmas para outros. Que o Espirito Paterno
nos faça como Ele em todas estas coisas!